© UNICEF 2013/Harry Borden
Então é isso.
Estou de volta a Londres. Estou de volta a minha casa. De volta ao meio da agitação e do caos. De volta à monotonia e do caos e da loucura. De volta à água corrente e o calor do aquecimento central. De volta à minha cama sem uma rede de mosquitos. De volta à comida na geladeira e comida na despensa e comida no supermercado da esquina.
Eu vi coisas que nunca havia visto antes.
Quando comecei a escrever esse blog, eu falei da vida na Guiné como um "quebra-cabeça, um onde as peças se moviam ou mudavam de forma, o que por sua vez altera o todo. Você pode estar olhando para ele de um ângulo diferente ou em um horário diferente do dia." Na minha primeira noite, Julien havia sugerido uma ideia da realidade na Guiné como, "aberta à interpretação." Em muitos aspectos, esta é a verdade da vida. A visão sempre muda com o espectador. Esta é a lei da relatividade.
Eis o que não está aberto à interpretação. Todos os anos no mundo mais de dois milhões de crianças morrem de fome. Não deveria ser assim. Crianças na Guiné começam a vida em grande desvantagem. Aquelas que são desnutridas podem sobreviver no final, se forem diagnosticados a tempo. Se as suas mães responderem aos sintomas o mais cedo possível, se conseguem ir até o centro de saúde, que geralmente está a milhas de distância, se eles respondem à pasta de amendoim terapêutica e à alimentação com o leite terapêutico especial. Se os pais são capazes de plantar e alimentá-los com alimentos nutritivos suficientes para que possam se manter saudáveis. Se vencerem a luta contra a malária. Se eles moram perto de uma boa escola. Se eles conseguirem trabalho. Se seus pais puderem protegê-los da exploração pelos militares. Se eles tiverem sorte. Crianças que foram desnutridas podem conseguir. Isso pode soar como algo paradoxal, mas eles são os sortudos.
© UNICEF 2013/Harry Borden
Crianças desnutridas crescem em desvantagem. Elas serão fisicamente menores, possivelmente com capacidade intelectual diminuída. Os seus cérebros e corpos não se desenvolverão da mesma maneira. Claro, sempre há uma chance de que com muito trabalho, educação, treinamento e força de vontade qualquer indivíduo pode e irá evoluir para grandes conquistas. Mas essas crianças começam muito atrás. A corrida da vida - a corrida pela vida - é infinitamente maior e infinitamente mais difícil. Todos os dias há desafios para a sua sobrevivência e desenvolvimento. Contexto é importante. Eu tive o privilégio de ter visto esse contexto em primeira mão. Elas vivem no meio do nada. Não há água. Há falta de saneamento. Há uma escassez de alimentos. Há falta de educação. As condições são inconcebivelmente difíceis: elas são incríveis, até que você as tenha visto com os seus próprios olhos, até que você tenha vivido em seu meio, mesmo por um curtíssimo período de tempo.
Antes da minha visita à Guiné, eu sabia que a fome mundial e desnutrição eram um problema. Mas a questão era apenas acadêmica na minha cabeça. Quando você vê crianças desnutridas com seus próprios olhos e sua desvantajoso início na vida, uma imperativa moral obriga você a agir e se torna impossível de ignorar.
No ocidente, nós esquecemos dos mais simples privilégios que temos. Muitos tem dito isso antes de mim, e muitos vão dizer depois de mim. Ainda é verdade. Nas regiões mais pobres da África Ocidental você pode esquecer a respeito de um bom banho ou um banho quente no final de um longo dia. Sobre acionar a descarga no banheiro ou sobre mesmo ter um banheiro. Você pode esquecer sobre ligar uma torneira. Sobre ir correndo a uma loja para comprar jornais, uma barra de chocolate e um pouco de sabão em pó. Na Guiné, as pessoas andam 15 milhas até o rio para lavar suas roupas. Lavar a roupa leva toda a manhã. Você não apenas "liga o modo lavar."
Eu não sou nenhum salvador. Eu sou absolutamente a última pessoa no planeta que pode ajudar praticamente. Eu não sei como fazer os diferentes tipos de leite de amamentação terapêuticos. Não sou químico. Não sou médico. Não sou engenheiro. Não posso fabricar vacinas contra poliomielite ou organizar o seu transporte até os centros de saúde em Saramoussayah ou Bissikirima. Não posso construir escolar ou projetar sistemas de drenagem. Não posso fornecer água às mulheres e crianças de Mandiana.
Eu sou apenas um ator. Curiosamente isso não existe na Guiné. Simplesmente não é contado como uma ocupação. Ouvi contos sobre o 'griot': o termo usado na África Ocidental para descrever o contador de histórias, o poeta, o bardo. Mas nas escolas que visitei quando eu perguntei às crianças o que elas queriam ser quando crescessem, as respostas foram 'professor', 'ministro da educação', 'encanador', 'eletricista', 'carpinteiro', 'professor','professor' e 'professor'. Muitos ainda disseram que queriam trabalhar para a UNICEF.
As pessoas que realmente estão ajudando são aquelas no chão. Elas são heróicas e principalmente, senão totalmente desconhecidas. Julien Harneis, o representante residente da UNICEF na Guiné e nosso guia, é um homem de extraordinário conhecimento, experiência, energia, curiosidade e bondade. É dele o trabalho de dividir os recursos financeiros e médicos da UNICEF e de garantir que esses planos e políticas tenham resultados reais no campo. É trabalho dele coordenar com o governo da Guiné e autoridades locais, para que os avanços em ambas as causa, humanitária e desenvolvimento do país cresçam em paralelo. Ele é auxiliado por Felix Ackebo, seu ajudante, por mulheres como Michele Akan Badarou, sua especialista em comunicação, pelo Dr. Pierre Andou, seu especialista em nutrição. Pessoas como Idrissa Souaré, Chefe do Leste e Mariame Kanka Labe Diallo, a diretora profissional de saúde de Saramoussayah, que me deixou uma impressão tão duradoura em mim. Eu nunca vou esquecer o rosto dela enquanto eu viver. Estas são as pessoas que estão fazendo o trabalho, dia a dia. Este trabalho não é aborrecido ou piegas. É alegre.
Depois temos Pauline Llorca e Louise O'Shea, incansáveis, inspiradoras e incessantemente boas e sua equipe da UNICEF UK em Londres, que trabalham incansavelmente e com tanta paixão para promover, desenvolver e implementar políticas e programas da UNICEF em todo o mundo. É a eles que devo uma eterna dívida de gratidão. Foram eles que me permitiram o privilégio de visitar a Guiné. Eles tornaram isso possível.
O que eu aprendi na Guiné é que todos nós somos responsáveis pelo estado do nosso mundo. O mundo - e o sistema através do qual temos comércio, troca, cooperação e conflito - claramente não está funcionando. Somos tão fortes quanto nossos membros mais fracos. A UNICEF é conduzida em todos níveis por pessoas fortes, enérgicas e profundamente capazes que usam essa energia, força e capacidade para ajudar aqueles que precisam mais: as mais fracas e mais desavantajadas mulheres e crianças do nosso mundo. Tudo o que eu posso fazer agora é ajudar a fazer as pessoas conscientes do que está acontecendo e o que estão fazendo. Isso é tudo o que eu posso fazer, por agora.
10 comentários:
Incrível como depois de presenciar uma realidade tão devastadora Thomas ainda consegue colocar a cabeça no lugar e escrever tão bem. Saber dos níveis de pobreza é uma coisa, ver com seus próprios olhos crianças a beira da morte deve abalar todo o seu ser. Este é o sistema que não funciona, dá privilégios para uma minoria e ferra com a maioria do povo. Impossível ele ter voltado a mesma pessoa desta viagem, mais consciente com certeza e espero que não mais triste. Valeu pelas traduções!
Não tem como não amar ainda mais esse homem!!!
Que exemplo que ele deu, ele escreveu coisas que eu nunca imaginei q leria na vida, imagina ele que viu tudo isso!!
É um grande herói e espero que ele tenha conseguido ajudar muito a Unicef UK!!
:)
Parabéns ao Tom pelo gesto nobre e parabéns ao blog por traduzir suas palavras, me emocionei só de ver as fotos das crianças doentes as das crianças na escola jogando futebol com ele, foi um gesto muito lindo e humilde da parte dele em brincar com as aquelas crianças carentes, peso a Deus que o abençoe e continue iluminando ele e que de forças para aquelas pessoas tão necessitadas.
Parabéns e fiquem com Deus.
É... É realmente impressionante. Eu imagino como ele estava emocionalmente quando escreveu essa postagem! Muito chocado, certeza. Mais é de cortar o coração ver esse tipo de cena em imagens, imagina ele que viu isso de perto, pode tocar nessas crianças, sentir sua dor. Mais é como ele mesmo disse, só resta a ele e todos os que compartilhou de sua experiência alertar os outros para isso. Ainda ah esperança para aquelas crianças!
Parabéns ao Tom, ele teve a iniciativa de querer conhecer e foi, ele é realmente u homem extraordinariamente incrível e com uma alma linda!
Continue sempre assim Tom, você é iluminado e merece tudo de bom!
Um beijão à vocês meninas, que trabalharam para traduzir os diários do nosso Lord em suas aventura humanitária à Guiné! Parabéns, muito legal!
Ah Tom, espero que saiba como você é uma pessoa incrível. Um incrível ser humano.
cara, eu amo esse homem!!
Ele certamente experimentou todos os tipos de sensações nesta viagem e estando tão próximo das dificuldades deste povo sofrido e esqueçido, deste continente tão negligenciado que é o Continente Africano, passamos a dar mais valor para as coisas simples da vida e deixar de lado as frivolidades que nos corrompe e corrói.
Lendo o final desta aventura do tom, me veio novamente na mente algo que me fez avaliar a importância do outro na nossa vida; do valor da gratidão. acho que ainda falta muito amor no nosso planeta mas se ainda não conseguimos amar da maneira ideal, podemos começar com o respeito, a educação e a gratidão; por aqueles que tornam nossas vidas melhores, como o Tom escreveu; a água encanada, o pedreiro que construiu a casa que nos abriga e aquece; enfim, os privilégios do mundo ocidental! parei p'ra pensar sobre o trabalho braçal, do suor, do que a pessoa teve que passar para deixar as coisas mais fáceis para nós! a Guiné é um país que está aí para nos alertar sobre isso tudo! seria melhor que não existissem mais lugares com tanta pobreza assim no mundo, mas infelizmente a Guiné, como tantos outros países, está aí para tirarmos esta lição! Esta reflexão eu quis dividir com voçês.
ps: Eu vou me cobrar p'ra pensar mais sobre essas coisas.acho que estou inspirada por causa do Tom (rs)!. bjos.
Foi uma atitude verdadeiramente linda! O Tom merece um prêmio, embora nós saibamos que ele não faz isso esperando reconhecimento. Mas é esse tipo de atitude que merece atenção das pessoas! Todo mundo devia ter pelo menos um pouco de Tom Hiddleston dentro de si. É realmente lindo! Ele escreve muito bem e nos faz vivenciar com ele cada experiência. Parabéns, Tom.
By: Silvia.
Todo mundo pode fazer sim, fazer algo pelo outro que está à mercê. Ele é um ator, e um ator famoso que levanta a mídia com a profissão que tem. Ele influência até seus fãs, e seus fãs podem fazer o mesmo que Tom, ajudando, contribuindo; com qualquer um, seja lá na Guiné, seja no sertão nordestino, seja em qualquer lugar. Sempre haverá alguém próximo à gente esperando um olhar caridoso. Nós somos quem decidiremos se colocaremos a mão na massa ou ficaremos apenas nos elogios. Porque elogio não enche barriga, é preciso botar a mão na massa. Acredito que Tom fez o que pode, e sei que pode mais ainda. Vai depender dele, vai depender de cada um de nós para mudar o panorama. Se cada um desse um pouquinho de sua ajuda aos necessitados, esse problema não seria tão atual como é nos dias de hoje.
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