Bem Vindos ao Tom Hiddleston Brazil, o primeiro e mais completo fansite brasileiro dedicado ao ator Tom Hiddleston, mais conhecido por seu papel como Loki nos filmes Thor e Os Vingadores. Aqui você encontra as últimas notícias, entrevistas, fotos e vídeos sobre o ator. Obrigada pela visita, voltem sempre! -
Equipe THBR

quarta-feira, outubro 05, 2016


Interview OUT 2016 - Entrevista

2


 Que época para estar vivo – especialmente se você é Tom Hiddleston, ex-aluno da prestigiosa Dragon School, Eton College, Cambridge e da Academia Real de Artes Dramáticas; aquele Tom Hiddleston, estrela do teatro e cinema, que recentemente terminou um romance com a super garota dos sonhos Taylor Swift.

Para Hiddleston, a vida é tão boa que inspira algumas teorias da conspiração muito boas-para-serem-verdade – a melhor dessas é mais ou menos assim: Hiddleston, aos 35 anos, é um dos favoritos para substituir Daniel Craig como o próximo James Bond, e equipes de relações públicas encenaram seu relacionamento com Swift para elevar o seu poder de estrela. Como se ele precisasse de ajuda. 

A estrela de Hiddleston, por si própria e alimentada por seus talentos abundantes, tem estado em ascensão permanente desde que ele foi escalado como o vilão mitológico Loki, um personagem recorrente no contínuo Universo Marvel de filmes, em “Thor”, de
Kenneth Branagh (2011). Cinéfilos provavelmente se lembram do ator mais carinhosamente como o vampiro/roqueiro de séculos de idade em “Amantes Eternos”, de Jim Jarmusch (2014), ao lado de Tilda Swinton. Porém, caçadores de talentos teriam notado o trabalho de Hiddleston muito antes em uma variedade de papéis no teatro e na televisão – ao lado de Branagh em “Wallander” da BBC, por exemplo –, plataformas em que ele continuou a prosperar até o topo, incluindo a adaptação de “O Gerente Noturno” de John le Carré, na minissérie de Susanne Bier neste ano, em que Hiddleston estrelou como um agente de campo, espionando o traficante de armas mais sinistro do mundo.

No próximo ano, com a força de dois blockbusters monstruosos (“Thor: Ragnarok” e “Kong: Skull Island”) – e, talvez, tudo bem, aquele relacionamento muito comentado – a estrela de Hiddleston provavelmente se instalará no firmamento superior onde as celebridades “A-list” vivem. Se essa ascensão irá ou não trazê-lo Bond ou mais, a intriga provavelmente irá segui-lo aonde quer que vá. Em agosto, durante as filmagens na  Austrália, Hiddleston ligou para seu amigo e companheiro de Marvel
Benedict Cumberbatch para conversar sobre os perigos e o potencial poder que vêm junto com a fama.




BENEDICT CUMBERBATCH: Como todos os entrevistadores, devo antes de tudo agradecer a você, Tom, por este tempo.

TOM HIDDLESTON: [risos] Obrigado, Benedict. Nós devemos só agradecer um ao outro pelo nosso tempo. Pelo resto de nossas vidas.

CUMBERBATCH: E então, no jeito típico britânico, devemos apenas pedir desculpas por tudo.

HIDDLESTON: Sinto muito por perturbá-lo.

CUMBERBATCH: Eu sinto muito mais do que você.

HIDDLESTON: [risos] Como você se sente sobre...

CUMBERBATCH: Meu papel como jornalista?

HIDDLESTON: Estou dividido. [risos]

CUMBERBATCH: Acho que o meu papel aqui é muito mais como um verdadeiro amigo do que jornalista. Não haverá surpresas, eu prometo. Mas apenas para começar, como é colocar o cabelo e os chifres, trabalhar com Chris [Hemsworth] novamente, e com Taika [Waititi], seu diretor, aí embaixo na Austrália?

HIDDLESTON: Bem, é muito empolgante, porque eu não interpretava Loki há quatro anos. A última vez que vesti o traje foi na San Diego Comic-Con em 2013.

CUMBERBATCH: Você está brincando comigo!

HIDDLESTON: A melhor coisa, honestamente, é trabalhar com Chris de novo. Eu o conheci na casa de Kenneth Branagh na Inglaterra em 2009. Éramos apenas crianças, no início da nossa jornada de atores. Tivemos uma conexão instantânea, e tem sido extraordinário compartilhar isso com ele, esta viagem louca com a Marvel. Anthony Hopkins está no set esta semana. E Taika Waititi é magnífico. Ele encontrou uma maneira de honrar tudo o que veio antes, mas do seu jeito. E ele é tão engraçado. Seus filmes – se você não tiver visto, tem que procurá-los: “O Que Fazemos nas Sombras”, “Hunt for the Wilderpeople” –, eles têm essa combinação de leve bom humor e emoção. São muito comoventes. Todo mundo está muito feliz. Claro, estamos apenas no começo.

CUMBERBATCH: Quantas semanas faltam para você?

HIDDLESTON: Ficarei aqui até o início de novembro.

CUMBERBATCH: Entendi, você ainda tem um longo caminho pela frente. Então, você está tendo um inverno australiano, o que imagino ser bem agradável comparado ao inverno inglês.

HIDDLESTON: [risos] Isso é o que estão dizendo. Estamos na costa de Queensland, e exceto pelo fato de sol se pôr muito cedo e muito rapidamente, o céu está claro e o sol brilhando. É melhor para a minha pele céltica do que o verão deles. Eu estava aqui exatamente no mesmo lugar em janeiro fazendo “Kong: Skull Island”, e foi agradável, mas incrivelmente quente. 

CUMBERBATCH: Boa transição. Vamos falar sobre esse filme, já que foi a sua última excursão. Você passou por condições muito duras – acho que vocês filmaram no Vietnã, na selva, e depois num verão australiano muito quente. 

HIDDLESTON: O Vietnã foi inacreditável. Eu me sinto tão sortudo por ter ido com aquela produção, sendo parte do circo itinerante de um filme grande como esse... Filmamos em Oahu, Hawaii. Filmamos na Austrália. E filmamos no norte do Vietnã, e em torno de Hanói, Ha Long Bay e Ninh Binh. O que acho excitante neste caso é que há paisagens no Vietnã que muito poucas pessoas já viram. E as pessoas que conheci no Vietnã estavam esmagadoramente animadas. No minuto em que aterrissamos, Jordan Vogt-Roberts, o diretor, Brie [Larson], Sam Jackson, Alex Garcia [produtor executivo], e eu fizemos uma coletiva de imprensa em Hanói que foi organizada pelo embaixador dos Estados Unidos no Vietnã. Foi um grande momento para o país. Muitas pessoas que conhecemos nunca tinham visto uma produção dessa escala. Em certos lugares, ajudamos a construir estradas para que pudéssemos levar, em caminhões 4x4, os equipamentos de câmera para onde precisávamos ir. No primeiro dia, Sam apareceu para uma cena muito simples com muito pouco diálogo, e milhares de pessoas foram assistir. E depois de cerca de uma hora, elas ficaram entediadas, como “ah, isso não é muito emocionante. Vamos voltar para o que estávamos fazendo”. Mas, para todos nós, fomos expostos a este país extraordinário de beleza deslumbrante. 




CUMBERBATCH: Oh, Deus, eu deveria estar escrevendo isso, não é? 

HIDDLESTON: Você vai transcrever depois?

CUMBERBATCH: Estou olhando para uma paisagem muito europeia imaginando o que você está descrevendo, muito longe da caneta e do papel. Sinto como se estivesse nas selvas do Vietnã. Mas, desde que alguém faça essa transcrição e que não seja minha responsabilidade editorial, ficarei muito feliz. Bem, Tom, você é um ator e escritor igualmente eloquente. Lembro ter lido um artigo que você escreveu, descrevendo o primeiro dia em que enfrentou este ícone do cinema, King Kong. Sabe, você tem uma ótima reputação como cinéfilo. Mas queria saber se há uma época de filmes para a qual, se pudesse – se você tivesse uma máquina do tempo –, você voltaria e faria parte? Sejam musicais, ou o neorrealismo na Itália pós-II Guerra Mundial, ou talvez um filme de Spielberg nos anos 80?

HIDDLESTON: Há duas grandes épocas que ainda reverencio. Fico sem palavras em admiração com os takes ininterruptos da dança de Fred Astaire e Ginger Rogers e Gene Kelly. Não há “vamos corrigir isso na pós-produção”. Eu estava assistindo um clipe de “Ritmo Louco” [1936] e... Qual o nome dele em “Cantando na Chuva” [1952]? “Make 'Em Laugh”? Donald O'Connor! Assisto a esses filmes em reverência. Era um tipo diferente de performance. E a segunda é os anos 70.

CUMBERBATCH: Quando os meninos da Costa Leste assumiram Los Angeles e o sistema de estúdio? Os Scorseses...?

HIDDLESTON: Sim. O imediatismo emocional, realismo e seriedade do cinema de então. “Taxi Driver” [1976], “Touro Indomável” [1980], “Apocalypse Now” [1979]...

CUMBERBATCH: Concordo plenamente. Eles foram altamente relevantes, abordando questões enormes e importantes de seu tempo, politicamente. Eles conseguiram encontrar o equilíbrio de ouro entre entretenimento e arte.

HIDDLESTON: Também é nessa época que Stanley Kubrick estava fazendo o seu melhor trabalho. “2001” foi lançado em 1968. Antes do pouso na lua em 1969, eles se sentiram como se já tivessem estado lá graças ao que Kubrick havia dado como uma experiência no cinema. Eles na verdade inventaram materiais com a NASA, figurinos e objetos, para ter coisas que estavam à frente de seu tempo. Quero dizer, é a ficção científica conduzindo o barco. E os filmes que estamos fazendo agora ainda se baseiam nesses filmes, nessa época extraordinária. Contudo, somos culpados por pensar sobre eras de ouro - uma ideia de “Meia Noite em Paris”.



CUMBERBATCH: Ao mesmo tempo, reconhecemos que, pelos últimos dez anos, estamos vivendo em uma era de ouro na televisão de longa duração, que você agora faz parte. Quando “O Gerente Noturno” estreou no Reino Unido, você só via as pessoas falando sobre isso. Foi absolutamente fascinante, e outra grande joia na coroa da BBC. Como foi trabalhar com Susanne Bier?

HIDDLESTON: Eu simplesmente amei a experiência. Sempre senti como se estivéssemos fazendo um filme de seis horas. Fizemos os storyboards e programamos como um roteiro de 360 ​páginas com um diretor. Susanne foi a nossa capitã. Filmamos na Suíça, Londres, Devon, Marrocos e Maiorca, nessa ordem. A maior parte da série foi em Marrocos, em Marrakesh, onde nossas cenas interiores do Cairo aconteceram, e onde filmamos as revoltas da Primavera Árabe. Ficamos sete semanas em Marrakesh e tivemos que fazer muitas páginas por dia, nas quais eu estava em cada quadro, saltando entre as identidades – fui Jonathan Pine, Andrew Birch, Thomas Quince e Jack Linden. Alguém me perguntou recentemente como foi voltar para a televisão, e não me senti assim. Acho que a diferença é maior para o público do que para nós. E, estranhamente, falando dos anos 70, “O Gerente Noturno” foi comprado primeiramente por Sydney Pollack [no início dos anos 90], e ele encomendou um roteiro de Robert Towne. Finalmente os direitos voltaram para le Carré e seus filhos, Simon e Stephen Cornwell. Mas talvez haja um mundo onde a história é melhor em seis horas do que duas. Não sei. E você, o que acha? Você é alguém que, por muitos e muitos anos, tem feito televisão e cinema simultaneamente. Nós estávamos montando cavalos um dia após o primeiro episódio de “Sherlock” ir ao ar na BBC – você estava caindo do cavalo, treinando para “Cavalo de Guerra” [2011]. Lembro-me quando “Sherlock” tornou-se o fenômeno extraordinário que é. E desde então, você já fez três temporadas? 

CUMBERBATCH: Fizemos quatro temporadas. E um especial de Natal... 

HIDDLESTON: E “Doze Anos de Escravidão” [2013], “O Jogo da Imitação” [2014], e um milhão de outras coisas que eu não estou pensando. Não para nunca. 

CUMBERBATCH: Felizmente, agora estou parando e tendo tempo para falar com você, meu amigo, o que é muito bom, mesmo que as nossas palavras estejam sendo gravadas e impressas. Temos que conversar quando desligar. Desculpe por isso, mas algumas coisas estão fora do limite. Eu acho que a televisão e o cinema alimentam-se bem um do outro. É mais na percepção do espectador do que do ator. Apesar disso, há demandas muito específicas na televisão, e você nota as constrições do orçamento. Você nota a restrição de tempo e a restrição monetária mais do que qualquer outra coisa. Mas a ambição da escrita e, espera-se, seu resultado fica cada vez melhor, porque queremos superar a nós mesmos para nos manter a frente de um público ávido com muitas expectativas.

HIDDLESTON: O que você acha sobre revisitar um personagem – como Sherlock ou Loki – em comparação a criar um personagem pela primeira vez?

CUMBERBATCH: Acho que você tem que abordá-lo com o mesmo nível de invenção. Há coisas já determinadas, que você já estabeleceu, e, claro, visualmente, há certas coisas icônicas que não podem ser completamente removidas, como um chapéu ou um casaco no meu caso. Eu sei que você teve dificuldades com os chifres, e queria falar sobre isso se você puder. Morre-se quando você não sente a reinvenção. É interessante. Eu realmente gosto. Acho que eu não faria se a escrita não fosse tão boa, se não fosse exigido que eu fizesse coisas diferentes com o personagem. Realmente depende de quais são os obstáculos e objetivos. Se forem muito interessantes, então você pode trazer novas táticas para representar. E acho que os personagens devem ser um livro aberto, uma tela em branco. Com Loki, o deus metamorfo da travessura pode ser uma série de coisas. E um detetive consultor que de repente pode lutar kung fu e falar um idioma diferente ou usar a linguagem de sinais... Há todos estes recursos inexplorados. Quanto ao dia de trabalho, eu gosto desta familiaridade. Me pergunto se sentiria o mesmo revisitando um papel clássico no palco. Por exemplo, se eu fosse fazer Hamlet de novo em outro lugar, como seria? Porque são as mesmas falas, os mesmos impasses, os mesmos personagens que você está representando. Nada mudou; o que mudou foi o contexto. Você tem uma dimensão espiritual no seu dia-a-dia? Se um dia você está com problemas, você tem uma rotina? Um mantra ou algo assim?

HIDDLESTON: Você tem que fazer alguma coisa, mesmo que seja apenas para dar o pontapé inicial no dia. Eu uso a música. E corrida. Acho que, quando estou trabalhando, se eu começar o dia correndo – na rua, não em uma academia, só eu lá fora com os elementos, só com minhas próprias pernas para me impulsionar... É algo a ver com apenas estar no mundo e sair da minha própria cabeça.




CUMBERBATCH: Você tem a disciplina para ir dormir e acordar cedo para fazer esse exercício?

HIDDLESTON: Você tem que ter. Você não funciona. E varia de trabalho a trabalho. Em “Kong: Skull Island”, estávamos sempre do lado de fora. Meu personagem é um ex-soldado do Serviço Aéreo Especial, então ele é como um atleta máximo – eu sempre podia simplesmente correr e me animar se estivesse me sentindo preguiçoso. 

CUMBERBATCH: Eu li Hugh Laurie te elogiando muito, dizendo que, por vezes, a sua energia manteve a unidade inteira funcionando. Mas alguma vez você ficou em apuros com a equipe de maquiagem e figurino? Eu lembro ter visto fotos de você correndo com o Chris em algum momento na Islândia. E, droga, é apenas esse sorriso e charme inglês que você tem que faz você normalmente se safar com seus maquiadores e seu figurinista.

HIDDLESTON: [risos] Eu não sei, não é para todos. É apenas como eu faço. E o negócio com a corrida é que, se eu correr de manhã antes do trabalho, eu sinto como se estivesse à frente do dia. Seja qual for o trabalho que fiz em termos de preparação ou pesquisa, ou de pensar sobre a cena ou o personagem, tudo meio que se cristaliza naquele momento da manhã. E às vezes eu tenho as melhores ideias nesse momento. Eu lembro de que, quando estava fazendo “Henrique IV - Parte 1” para “The Hollow Crown” – a série que você também estrelou, brilhantemente –, tivemos muito pouco tempo, e estávamos prestes a filmar uma cena central entre Henrique IV e o príncipe Hal, em que Hal é chamado à corte de seu pai e é repreendido e humilhado publicamente por ter saído com Falstaff. É uma cena extraordinária entre dois atores. O Rei Henrique IV tem a maior parte das falas – neste caso, Jeremy Irons. E me lembro de pensar que ele deveria me bater depois de uma determinada fala. Isso foi em janeiro de 2012, e foi durante a minha corrida pela neve às cinco horas da manhã que eu tive essa ideia, que ele deveria simplesmente me dar um tapa no rosto. Este é literalmente o momento em que Hal compreende o peso de sua responsabilidade como o futuro rei. Todo o peso desta poesia e as palavras de Shakespeare. Mas ele vem com um tapa.

CUMBERBATCH: É um grande momento. Mas é a mesma coisa, acho, para respiração, meditação ou yoga. Correr é uma ótima maneira de fazê-lo. Há algo tão móvel sobre você. Não apenas fisicamente, não a corrida, mas você é muito atento ao que está à sua frente. Você tem medo de alguma coisa que pode ficar no caminho disso? Quero dizer, é como perguntar para alguém aparentemente invencível sobre o que eles mais temem. Não se sinta obrigado a responder. Me mande se ferrar se quiser. Você pode, porque sou seu amigo.

HIDDLESTON: Obrigado, amigo. 

CUMBERBATCH: Devo te dizer a minha resposta enquanto você pensa na sua?

HIDDLESTON: Diga a sua e eu te digo a minha.

CUMBERBATCH: A passagem de tempo. E isso é puramente porque me tornei pai, querer ter um pouco mais de tempo a cada dia, tendo algo fora de mim que é mais importante do que eu para me focar. Foi um forte despertar, o minuto em que ele nasceu. E toda vez que eu o seguro, olhar para algo tão novo e olhar para este eu de 40 anos no espelho, penso “uau, eu realmente quero estar aqui para ver os seus filhos”.

HIDDLESTON: O meu é semelhante. O meu é arrependimento. Tenho medo de olhar para trás e desejar que eu tivesse feito coisas que não fiz. É interessante, eu li este artigo extraordinário sobre um livro, há muitos anos, escrito por uma enfermeira australiana que é um especialista em cuidados paliativos. Seu trabalho era ajudar pessoas nos seus momentos finais, aliviar a sua dor. Então, ela passou muito tempo com pessoas em seus últimos dias e semanas. E ela ficou muito comovida com a experiência acumulada, porque ela ouviu as pessoas dizerem coisas tão semelhantes. Estranhamente, no topo da lista estava: “Eu queria não ter trabalhado tanto”.

CUMBERBATCH: Enfrentar isso é bem importante.

HIDDLESTON: Uma família restabelece completamente esse equilíbrio, mas como você lida com essa realização na sua vida? Você está tentando encontrar mais tempo entre projetos?

CUMBERBATCH: Estou arranjando mais tempo. E, talvez seja só porque estou ficando mais velho, mas eu não quero perder as coisas. Temos o privilégio mais extraordinário de fazer este trabalho, mas às vezes, quando estou longe, no local de filmagens, sinto que estou longe na maior parte da minha própria vida. Quero ser melhor em ficar em contato.

HIDDLESTON: Os outros cinco arrependimentos do livro da enfermeira australiana eram: eu queria não ter trabalhado tanto; eu queria ter tido a coragem de viver a vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim; eu queria ter tido a coragem de expressar meus sentimentos; eu queria ter mantido contato com meus amigos; e eu queria ter me permitido ser mais feliz. É uma lista extraordinária de coisas que ficam no seu caminho, não é? 

CUMBERBATCH: É uma lista muito boa para você. É uma lista muito boa para mim. Acho que para qualquer pessoa que trabalha muito e que muitas vezes está longe de casa. Acho que a estranheza do nosso trabalho, assumindo estas circunstâncias imaginárias como outro alguém em um mundo fictício, que você então tem que falar sobre e transformar em narrativa para publicidade; isso é uma forma de projeção que não é completamente você – nem poderia ser, porque de outra forma não haveria mais nada ao voltar para casa. Mas como você volta a ser a pessoa que é após ter estado em público? Há algo em especial que o traz de volta para quem Tom é? É a sua casa? Família? Amigos? Fazer exercício?

HIDDLESTON: Eu só vou para casa. Só isso, literal e metaforicamente. Para Londres. Quando terminei “O Gerente Noturno”, percebi que, por 75 dias, eu tinha vivido mais horas por dia como Jonathan Pine do que como eu mesmo.




CUMBERBATCH: Isso afeta você, não acha?

HIDDLESTON: Sim. Você está se colocando no lugar dessa outra pessoa. A melhor coisa que eu poderia ter feito foi exatamente o que fiz. Voei para casa e fui para a festa de noivado da minha irmã. Eu estava rodeado pela família. E eles foram tão reconfortantes. E então, eu só vivo uma vida tão chata. Eu fico sem fazer nada, leio livros que eu queria ler, mas não tive tempo.

CUMBERBATCH: Eu fiquei na sua casa, lembra? 

HIDDLESTON: [risos] Sim. Eu só fico sem fazer nada, ponho as coisas em dia, saio para um café, leio o jornal, e passo um tempo com minha mãe e meu pai.

CUMBERBATCH: Você tem feito um trabalho maravilhoso para a UNICEF. Eu li o que você escreveu sobre a sua experiência na missão de averiguação, há cerca de dois ou três anos, na Guiné, África. Parece que foi uma experiência formativa muito importante para você. Você acha que há também uma responsabilidade agora que você tem essa voz pública?

HIDDLESTON: Meu investimento pessoal no personagem Pine era enorme, e Hugh Laurie, que amou “O Gerente Noturno” e o ama por 20 anos, já falou publicamente que identifica Pine como uma alma perdida à procura de uma causa. E por um simples capricho do destino, uma semana antes de eu começar “O Gerente Noturno”, viajei para o Sudão do Sul com a UNICEF para fazer um documentário sobre os efeitos da guerra civil que está acontecendo naquele país, mesmo agora. O efeito sobre as crianças inocentes. O Sudão do Sul é a nação mais jovem do planeta. Sua independência do Sudão foi declarada em 2011. E em meados de dezembro de 2013, o presidente e o vice-presidente entraram em uma grave disputa, o que dividiu a nação em linhas étnicas. Eu fiz um documentário, que ainda não foi lançado, sobre o recrutamento de crianças-soldados, o que constitui uma violação dos direitos humanos. E vi um país que foi fortemente militarizado, e me perguntei de onde vêm essas armas? Há tanta pobreza e desespero no Sudão do Sul, e ainda assim cada lado é militarmente equipado. Como isso aconteceu? Eu voltei do Sudão do Sul tendo testemunhado, em primeira mão, a violência a partir do qual um homem como Richard Roper em “O Gerente Noturno” lucra. Me lembro de jantar com John le Carré e contar para ele sobre o Sudão do Sul, sobre como me senti impotente, o quão abandonada esta pobre jovem nação e seus habitantes parecem estar, dilacerados por uma guerra civil. Assim, em certo sentido, a raiva moral de Pine também pertence a mim. E le Carré inclinou-se e disse apenas: “Use-a. Use-a”. O mundo em que cresci está no momento se tornando cada vez mais perturbador e inquietante. Em todos os lugares há desigualdade, em todos os lugares há divisão, e eu me preocupo com isso. Acho que todo mundo se preocupa. Eu gostaria que pudéssemos ser decentes uns com os outros. E eu tenho pensado muito sobre se eu tenho a responsabilidade de defender o que acredito porque tenho uma plataforma, porque tenho uma voz. Chega-se a um ponto em que você deve defender estas crianças. Elas não pediram por isso. E, a propósito, estou profundamente ciente da minha falta de habilidade em fazer qualquer diferença material. Não sou médico. Não posso influenciar a política externa. Não posso construir escolas. Não posso criar quimicamente a pasta de proteína que ajuda pessoas com desnutrição aguda. Mas eu posso falar sobre isso, e você também. Há um cirurgião extraordinário chamado David Nott que foi para Aleppo em 2013, antes de o assunto estar na mídia, e ele tratou crianças e vítimas da guerra na Síria. Foi incrível saber de sua bravura, e acho que, como alguém que foi convidado pela UNICEF para ser embaixador, sinto a responsabilidade de defender essas crianças. Porque ninguém defende. Então eu faço isso, e é um equilíbrio delicado porque sou um ator. E ainda assim, de alguma forma, nós recebemos essas plataformas para falar, e eu fui muito inspirado pelas pessoas que tiveram a bravura e coragem para fazer isso muito antes de mim.

CUMBERBATCH: É muito fácil ser cínico sobre qualquer tipo de interferência em coisas que estão além do nosso conjunto de habilidades, como você diz. Nós não somos voluntários da UNICEF ou parte da equipe em campos de refugiados. Não somos policiais ou políticos. Mas acho que, após certo tempo de envolvimento ou de pesquisa ou uma afiliação com alguma coisa, nós podemos virar o holofote para as pessoas que fazem esse trabalho, como as que trabalham no campo para a UNICEF. E isso é fazer uma coisa boa. Prefiro ser criticado por isso a ficar em silêncio diante de tal extraordinário sofrimento, que é dolorosamente óbvio para todos. Quer seja na Síria ou no Sudão.

HIDDLESTON: Estou muito orgulhoso disso.

CUMBERBATCH: Você deve se orgulhar. 

HIDDLESTON: Uma vez que você já viu certas coisas, a moralidade o leva a agir. E após ter visto o que vi no Sudão do Sul, não há como eu não falar sobre isso. Eu já te falei isso antes, mas isso me faz lembrar aquele discurso extraordinário de Harold Pinter no Prêmio Nobel, no qual ele falou sobre a distinção entre a verdade como dramaturgo e a verdade como cidadão. “A verdade na dramaturgia é evasiva. Você nunca a encontra, mas a busca por ela é compulsiva”. Ele diz: “Às vezes você sente que tem a verdade do momento em suas mãos e, em seguida, ela desliza por entre os dedos e se perde”. Mas como cidadão, você tem o dever de perguntar o que é verdadeiro e o que é falso. Me lembro de vê-lo discursar, e me senti muito inspirado.

CUMBERBATCH: Concordo. Como você pode negar esse impulso, tendo testemunhado em primeira mão? Nem consigo imaginar o efeito que deve ter em você. E há outro peso sobre nós estarmos na mídia, que é a suposição de que, por seu trabalho e o seu trabalho de promoção ser muito público, a sua vida privada também deve ser. E, sem entrar num grande debate, eu só quero dizer que não vou fazer perguntas sobre a vida pessoal do meu amigo só porque há fotografias não solicitadas dele e de certo alguém, em um relacionamento ou juntos. Não vou entrar nessa. Então essa porta está fechada, caro leitor. 

HIDDLESTON: [risos] Obrigado.



CUMBERBATCH: De nada. Eu sei que você faria o mesmo por mim. E, voltando a esta responsabilidade de ser uma figura pública, você disse que se sentia muito grato pelas coisas que vieram com essa responsabilidade, essas experiências extraordinárias. Você tem determinados pensamentos sobre experiências em sua infância, adolescência, seus vinte anos, e agora seus trinta, pelos quais você se sente grato? 

HIDDLESTON: Eu me sinto muito grato a minha mãe e meu pai por uma infância feliz. Há coisas que agora entendo que eles foram capazes de me dar que são muito especiais. E acho que os primeiros anos, a primeira década de sua vida, são de alguma forma os mais formativos. Fora isso, sou grato às pessoas que acreditaram em mim quando outros podem não ter acreditado.

CUMBERBATCH: Você tem um guru de teatro na escola ou um contemporâneo que o dirigiu a qual você é particularmente grato?

HIDDLESTON: Houve um professor chamado Charles Milne. Eu fiz uma produção de “
Journey’s End” no Edinburgh Festival Fringe em 1999. Eu estava prestes a ir para Cambridge, e depois ele me escreveu um cartão que dizia: “Vá para Cambridge e se divirta. Salte e desfrute da jornada, da experiência. Mas talvez, no outro lado, pense em ser ator”. Esses momentos em que alguém reforça a sua autoconfiança desse jeito são muito, muito raros. E eu sou grato a Kenneth Branagh. Ele fez muito por mim. Em um determinado momento na minha vida, ele acreditou em mim de uma forma muito material. Sempre serei grato a ele por isso. Sou grato até pelos fracassos.

CUMBERBATCH: Isso é muito bom! Mas acho que você se deu muito bem. Queria ter visto essa produção de “Journey’s End”. Você deve ter arrebentado.

HIDDLESTON: Acho que te vi atuar antes mesmo de você saber quem eu era.

CUMBERBATCH: Quando foi isso? 

HIDDLESTON: Hedda Gabler. Como Tesman. Lembro muito bem.

CUMBERBATCH: Oh, meu Deus. Bem, eu te conheci não muito depois disso, acho. Porque você estava indo fazer o primeiro “Thor”, e lembro que houve uma festa. Não vou mencionar de quem era a festa, mas enfim, o fato é que nós tínhamos acabado de nos conhecer e eu pensei, “Deus, esse cara está voando!”. Acho que você tinha recentemente terminado “Otelo”.

HIDDLESTON: Como você se sentiu sobre se juntar ao universo Marvel?

CUMBERBATCH: Senti que o que importava era o papel em vez de todo o resto. Já estive na Comic-Con, e é uma maneira muito legal de retribuir aos fãs que impulsionam essas coisas. Foi bem assustador. Eu me senti como Pink Floyd. É só “olá, oi”, depois de os fãs estarem todos gritando. Esse lado é simplesmente fenomenal, me faz rir, e eu não sei se vou me acostumar com isso. Mal posso esperar para ver como o universo se expande. Também sou parte de sua turma! É um elenco incrível de atores. E é o trabalho duro mais divertido que você vai fazer, acho, como ator. Eles realmente sabem como tratá-lo bem. E o material é desafiador, espirituoso e muito divertido de fazer. Doutor Estranho é um personagem complexo, engraçado, mas empolgante. 

HIDDLESTON: Meu amigo, obrigado por fazer isso.

CUMBERBATCH: Sem problemas. Um abraço.

HIDDLESTON: E feliz aniversário!

CUMBERBATCH: Muito obrigado. Tenha bons sonhos aí no outro lado do mundo. Te vejo em Londres.


Tradução: Lunna N.
Revisão: Luciana H.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amei essa entrevista/conversa tipo papo cabeça entre dois. O que salva os filmes de Thor é o Loki.

Anônimo disse...

Adorei esta entrevista. E acho estranho ninguém ter comentado. Ele mais uma vez demonstra o quanto é inteligente e sensível. Mas fiquei bastante preocupada com sua aparência. Ele parece muito magro e abatido. Muito envelhecido para os seus 35 anos. Parece ter perdido um pouco da alma borbulhante que faz os seus olhos brilharem com intensidade.
Espero que os administradores da página continuem a publicar, pois, como não estou nas redes sociais, esta tem sido a melhor forma de obter informações de boa qualidade sobre Tom Hiddleston.

Keyra Abdel

Postar um comentário

Sua visita e seu comentário são muito importantes! Porém, não aceitaremos comentários ofensivos ou de mau gosto.