Tom, a estrela de "The Night Manager" escreve exclusivamente para o Radio Times sobre a nova adaptação de John le Carré para a BBC1, confira:
Nós aparentemente vivemos em uma época transparente. Como Steven Spielberg disse em uma entrevista durante o lançamento de seu filme ‘Bridge of Spies’, que é situado durante a Guerra Fria, “todo mundo está nas bananas de todo mundo”. Nós vivemos atualmente em uma época de quase-total vigilância – quase todos têm um celular com câmera e conexão à internet.
As mídias sociais capturam a primeira faísca da opinião pública – algo engraçado, mais frequentemente algo ultrajante, ocasionalmente algo gentil – transforme em uma tendência viral, e a chama cresce com uma intensidade que aumenta até espalhar em volta do mundo como um fogo incontrolável.
Isso acontece em questão de segundos. Como um múrmuro de estorninhos, o volume de vozes públicas pode mudar formas aparentemente em sua própria conformidade, com um reforçado novo poder – ás vezes para celebrar e unificar, outras vezes para humilhar e dividir. É um milagre que ainda haja segredos que restam. Tudo é assunto de todo mundo. O que traz a questão: no mundo de hoje, como alguém possivelmente poderia escapar enquanto é um espião?
John le Carré vêm sido tanto como o arquiteto do nosso entendimento ao mundo dos espiões – seus ambientes e seus mistérios – tanto como está entre os mais sofisticados analistas da mente Britânica e é criador de um dos mais emocionantes romances desse último meio-século. Para muitos, ele é o intérprete primário da realidade da Guerra Fria.
O pano de fundo de sua ficção foi o estado da tensão política e militar sustentada entre o Oeste liderado pelos EUA e o Leste liderado pela União Soviética do final da Segunda Guerra Mundial até a queda do Muro de Berlim em 1989. Embora ambos os lados nunca entraram em combate em grande escala, cada um estava preparado ao máximo para a possibilidade de uma guerra nuclear, com a sempre presente ameaça de uma confirmada destruição mútua.
Esta penetrante atmosfera de medo está no tecido dos ótimos romances sobre a Guerra Fria de le Carré. Seus quietos heróis – Alec Leamas em ‘The Spy Who Came In from the Cold’, George Smiley em Tinker Tailor Soldier Spy, Magnus Pym em A Perfect Spy – eram falhos, cheios de dúvida, assombrados pela ambivalência moral, pelas suas consciências, pela hipocrisia de ter que fazer coisas ruins para um bem maior.
É um mundo agora familiar para milhões de leitores: os ternos de Savile Rows, nome código, o “Circo” – o nome que le Carré deu para o MI6 – apartamentos subsolo em Pimlico, casas seguras em Paddington, e salas de comitê secretas em Whitehall. Um mundo de paranóia, intriga e segredos, totalmente removidos do mundo aonde todo mundo sabe tudo sobre todos – o mundo que hoje conhecemos.
Ou será que conhecemos? Para minha mente, sinto como se mesmo que exista tantos segredos, tantas conversas privadas atrás de portas fechadas em corredores do poder. Eu não duvido que os assuntos do serviços de governo, inteligência e segurança continuem não revelados nos interesses de segurança nacional e relações internacionais. Mas o trabalhos deles continuam opacos e misteriosos.
Primeiro Ministro David Cameron convocou um voto no Parlamento se a Grã-Bretanha deveria participar em ataques aéreos contra o Estado Islâmico na Síria, no acordar dos ataques em Paris, notavelmente no Bataclan concert hall. Nós fomos assegurados pelos nossos representantes de ambos os lados da Casa que os ataques aéreos seriam reforçados no solo por 70,000 forças Sunni moderadas.
Fomos ditos que esta inteligência tinha vindo do “mais altíssimo nível”, e foi apresentada como evidência conclusiva da legitimidade e validade da decisão do Governo para mandar um avião Britânico. Esse serviço secreto poderá nunca ser revelada para o público Britânico.
Sobre tais coisas, nós continuamos no escuro. Nunca estivemos neste ponto antes.
Mas a referência crucial no Parlamento para o trabalho dos serviços de segurança, em um horário crítico, sugere a importante e perigosa natureza das reuniões dos serviços secretos no mundo de hoje. Há, atrás das cortinas, uma complexa rede de interesses e relações, nas quais depende a nossa segurança nacional. Esse ambiente é o forte de le Carré.
A ação de ‘The Night Manager’ se localiza no presente. Eu interpreto Jonathan Pine, um ex-soldado britânico que prestou serviços na Guerra do Iraque em 2003, que é descoberto trabalhando como o administrador da noite em um hotel em Zermatt, na Suíça, e é recrutado por uma agente operária chamada Angela Burr (Olivia Colman), que trabalha nas periferias do MI6.
Pine é enviado para se infiltrar no círculo interno de Richard Roper (Hugh Laurie), um britânico expatriado que está vendendo armas britânicas e americanas certificadas para a maior oferta no Oriente Médio, e que está (literalmente) saindo impune de um assassinato. Richard Roper, nas palavras de le Carré, é o “pior homem do mundo”.
Pelo jeito, o pano de fundo de “The Night Manager” trás uma pequena similaridade ao mundo de Smiley, mas há semelhanças impactantes. Nós não tememos mais um estouro de uma guerra nuclear entre o Leste e Oeste, mas agora temos outras forças de inimizade e escuridão, que nos dá ainda mais motivos para estarmos assustados.
Nossos inimigos na década passada vêm se apresentado na forma de grupos extremistas jihadistas – a anarquia criminal da al-Qaeda ou o mal bárbaro do Isis, e o solo parece se deslocar debaixo de nossos pés. Em tentativas dos poderes aliados do Oeste para confrontar essas novas ameaças, ela assume a forma de uma aterrorizante Hydra de muitas cabeças: corte uma cabeça e mais duas irão crescer no lugar daquela cortada.
O mundo está mais perigoso do que nunca.
A raiva de John le Carré está justa nesse quesito. Alguém pode sentir a raiva de um escritor que um homem como Richard Roper, receptor de uma educação Britânica e herdeiro de todas as liberdades da democracia Britânica, usa seus privilégios e benefícios de sua herança para fazer as piores coisas que se pode imaginar.
Ele financia uma vida de luxos – iates, jatos, vilas em Majorca – vindas da venda criminosa de uma das mais perigosas armas químicas no mercado, sem se importar com os que podem se tornar vítimas daquelas armas. Richard Roper negocia a morte, lucra dela, e ri.
Não há dúvidas que ele é charmoso: o diabo toca todas as melhores melodias. Mas ele é um cínico, niilista, e psicótico, que tem se divorciado completamente das consequências da violência da qual ele lucra, e vive de acordo com sua própria lei.
E os espiões? A natureza do compartilhamento da informação pode ter mudado na era digital. Os tumultos em Cairo durante as revoltas da Primavera Árabe de 2011, que trouxe a renúncia do ex-líder Egípcio Hosni Mubarak (as cenas iniciais de ‘The Night Manager), foram mobilizadas pelo Facebook, mas a coragem inata e habilidades do espião continuam as mesmas.
Um espião precisa possuir uma quase habilidade anômala para se dissimular, se esconder em plena vista, e a capacidade de se auto-apagar e se reinventar, o que é arriscado em si mesma. Nós construímos nossas identidades e auto-estimas ao contar as nossas histórias para nós mesmos, e assim reforçamos aquela narrativa com as reflexões que recebemos do mundo afora, de nossas famílias e amigos.
Um bom espião reprime ele próprio (quase ao negar a si mesmo) e elimina aquela narrativa, aceitando e abraçando as alterações de identidade e a maleabilidade de sua personalidade pública. Mas quando tudo é falado e feito – depois de tanto desgaste próprio – será que há alguém restante por dentro? Todos os protagonistas de le Carré, de George Smiley para Magnus Pym, Pym para Jonathan Pine, podem ser identificados por sua vulnerabilidade, sua solidão e suas dúvidas, mas também pela sua rebeldia e perseverança – para continuar a trabalhar no serviço de uma causa, apesar dos imensos riscos a sua saúde e segurança.
Jonathan Pine é descrito no romance de le Carré como uma “outrora criança-lobo do exército, perpétuo foragido de um emaranhado de emoções, voluntário, coletor de idiomas de outras pessoas, autoexilada criatura da noite e marujo sem destino”.
Os delitos misantrópicos de Richard Roper acendem uma chama dentro de Pine que fornece um destino para ele: uma certeza, uma integridade moral, que posteriormente o dá interna convicção e autodefinição por trás da performance exterior de seus vários personagens. Ele é um intérprete impecável – mas ele está pegando fogo por dentro.
Os heróis de John le Carré – despedaçados em dúvidas e isolados pelo seu sigilo – se tornam heróicos pela virtude de seus próprios sacrifícios por um bem maior. Em ‘The Night Manager’, le Carré sustenta a perseguição de Burr e Pine sobre Richard Roper e pelos meios os quais eles o perseguem, pois ele vê e admira a coragem essencial seu chamado para agir. Como Martin Luther King disse: “Aquele que passivamente aceita o mal está tão envolvido quando aquele que ajuda a cometer. Aquele que aceita o mal sem protestar contra está cooperando com isso.”
Angela Burr e Jonathan Pine escolheram protestar contra o mal de Richard Roper da maneira mais corajosa e perigosa possível. Pine precisa viver, secretamente, dentro da mandíbula da fera, sabendo que poderia fechar a qualquer momento. E se aquele disfarce é descoberto, ele é um homem morto.
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2 comentários:
Quando li essa materia, fiquei mais xonada por ele ainda!! Alem de excelente ator, ainda escreve artigos assim... Perfeito!
tão lindo e tao intelignte, é muita perfeição numa criatura só!
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